sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Encontro de Inverno

Dando continuidade ao nosso projecto de aproximação das pessoas ao campo, em particular aquelas que vivem na cidade, realizamos, no passado dia 6, mais uma actividade na Quinta da Serra.

O dia estava chuvoso mas a vontade de por as mãos na terra era muita. Fizemos uma sementeira comum de favas e plantamos as couves de Inverno.

O ponto alto da jornada aconteceu com a chegada do nosso amigo Tiago Sena que nos trouxe uma abundante e variada colheita de cogumelos selvagens: Boletus, Cantharellus nomeadamente os pretos - conhecidos por trompetas da morte - e o Pied-de-Mouton - que deve o nome vulgar à sua forma - entre outros. Depois de uma explicação sobre cada espécie, seu habitat e forma como surgem na natureza foi hora de os cozinhar e degustar.

Depois do almoço confeccionamos doce de abóbora, que acompanhou o chá, antes da partir.

Agora, é esperar que a natureza faça crescer os nossos legumes e, lá para Março, combinamos a sua colheita. Entretanto, nós comprometemo-nos a cuidar e a falar com eles.


















A propósito deste evento relemos o livro da Drª Berta Fernandes que contem um vasto capítulo designado Descrição das Espécies de Cogumelos, uma por folha, acompanhada da respectiva fotografia.
Passamos a transcrever alguns excertos da Introdução e do capítulo Biologia dos Cogumelos:
“O fascínio dos cogumelos é vivido de maneiras diferentes. Uns são tocados pela extraordinária e enigmática beleza da cor, forma e exotismo de certas espécies. Outros ainda há, movidos pelo pecado da gula, para quem os cogumelos são indispensáveis na sua mesa, tal como os imperadores romanos, que lhes conheciam já, e de que maneira, a subtileza do aroma, consistência e paladar.

Desde sempre, os cogumelos foram ora temidos, ora admirados. O belo Amanita muscaria, alucinogénio, digno do pincel de Bosch no Jardim das Delícias, seria, segundo M. Wasson e C. Levy-Strauss, o Soma, o deus dos primitivos indo-europeus, e como tal cantado no Sânscrito. Os povos germanos e celtas temiam-nos. Os índios da América do Sul, baseados nos seus efeitos psicotrópicos, utilizavam-nos nos seus ritos. Os Gregos e os Romanos incluíam-nos nas suas orgias. Agripina, mulher do imperador Cláudio, sabendo quanto este apreciava Amanita ceasariae, mandou-lhe servir este manjar acompanhado de outros amanitas mortais. Tinha a certeza de que, assim, poria o trono à disposição do seu filho Nero.”

“Os fungos são organismos muito simples, desprovidos de clorofila e incapazes, por conseguinte, de assimilar o carbono atmosférico. São obrigados a procurá-lo de diferentes maneiras: uns vivem sobre animais ou vegetais mortos, tomando muitas vezes parte activa na sua decomposição, denominando-se saprófitos; outros escolhem hospedeiros vivos, animais ou vegetais, dos quais se alimentam, sem nada lhes dar em troca, são os parasitas. Porém, existem situações em que os fungos vivem numa associação equilibrada, normalmente feita com plantas verdes, principalmente árvores, das quais obtêm açucares e outros produtos resultantes da fotossíntese. Dão em troca azoto, sob a forma de nitratos, e sais minerais, obtidos da decomposição dos resíduos orgânicos do solo, graças a fermentos digestivos, capazes de transformarem moléculas complexas noutras mais simples. Estes fungos são chamados simbióticos

A denominação de “fungo” vai desde o microscópico míldio, passando pelo bolor do pão, até aos macrofungos superiores, a que chamamos “cogumelos”.

Os cogumelos reproduzem-se por esporos, e quando estes encontram condições favoráveis (humidade, calor, substâncias nutritivas e substrato adequado) germinam, dando origem a um micélio. Este pode desenvolver-se no solo, num meio vegetal ou animal. Constitui a parte vegetativa e é constituído por filamentos chamados hifas. É por esta razão que, quando se apanham cogumelos, não se devem arrancar, para não destruir esse micélio, que pode vir agarrado. Se o micélio fica na terra, debaixo de condições especiais, vai originar o aparelho frutífero, o carpóforo. Este nasce habitualmente à superfície dele, formando, por vezes, círculos de carpóforos ou filas longas. O carpóforo é aquilo a que vulgarmente chamamos “cogumelo” e colhemos para comer.”